terça-feira, 17 de julho de 2012

Tempo de decisões

"Refletir é o mesmo que erigir casas. Quanto mais eu conheço os vocabulários humanos, quanto mais eu mergulho no mistério dos significados, muito mais eu construo casas para abrigar minhas angústias. A palavra é um socorro à alma humana (...). A obra escrita com sensibilidade e arte funciona como teto onde protegemos nossa nudez, onde encontramos abrigo para descansar nossas indigências."                           Tempo de Esperas, Padre Fábio de Melo

No micro-post anterior, eu expus aqui a minha fragilidade criativa frente às oscilações da vida, quero dizer, o quanto eu fico inerte quando estou em uma crise existencial e o quão pouco escrevo sobre os fatos e sentimentos que povoam esta crise, ainda que eu reflita muito sobre isto. E como reflito!

Tive a grata surpresa de tomar para mim este livro do Padre Fábio de Melo, que há alguns anos eu já o queria ler, e perceber que nele seguem alguns temas muitos atuais para mim. É um livro de trocas de cartas entre professor e aluno, estou saboreando-as aos poucos, ainda estou na 3ª correspondência, mas tão cedo este padre abençoado já me deu coragem para parar e refletir. Refletir aqui, em palavras. 

Coincidentemente, hoje eu fui até o meu lar dos últimos anos – a FAU USP – para tomar algumas decisões sobre minha vidinha profissional. Decisões tomadas (ou nem tanto!), fiquei vagando por alguns minutos pela faculdade, fria e deserta como em todo julho, e a única luz de vida veio da biblioteca, clara e colorida. Fui direto me refugiar entre os livros, em busca de uma voz, um conselho, um olhar, uma conexão... Nada físico, mas tudo no campo do escrito, e não menos real.

Já não é a primeira vez que assim acontece. Se estou aflita, angustiada, tensa, desvio e entro numa livraria em pleno horário do expediente. Às vezes, no centro de São Paulo, erro o caminho e entro num sebo de livros. Minha rinite nem sempre agradece, mas meu espírito me dá um tchau e sai em busca de qualquer outra coisa que não seja a realidade daquele dia.

Hoje na biblioteca da FAU, me enveredei na seção de Antropologia. Separei um Lévi-Strauss pra trazer para casa, mas a mocinha do atendimento – que há alguns anos já me chama pelo nome e não duvido que em breve me chamará pelo apelido – me disse gentilmente: "Mariana, já encerramos e a retirada é até 15 minutos antes do encerramento". Deixei o livrinho do caro professor francês (Ele é belga, na verdade! Acabei de “googlear”) na minha espera para uma próxima visita, talvez depois de amanhã. Não à toa fiquei por ali, pelas bandas da Antropologia, da Sociologia... Dei um pulo também ali nos bons e velhos urbanistas, em especial naqueles que nos lembram do direito à moradia. Bem ali mesmo, onde o urbanista mete o dedo na ferida e nos acorda para o dever primário de um arquiteto: o dever de promover a moradia nos seus meandros mais periféricos e necessários. Não vou me alongar muito, mas o caro leitor já deve observar por onde me encontrei ali naquela biblioteca e por onde venho querendo me achar na minha vidinha profissional. Pois então, isso é papo mais longo, que me exige uma dose maior de maturação, mas é bem por aí que vou trilhando meu caminho. Quando eu chegar, eu aviso!

Ler e escrever. O Padre Fábio me lembra do quanto é bom externar em palavras os meus anseios. E é isso que preciso fazer mais, sem obrigar o caro leitor a entrar num consultório de terapia, é claro! Mas também ler me abriga, me dá teto, me dá chão. Também ler me coloca numa sala quente e com luz fraquinha, ao lado de gente que nunca vou conhecer de verdade, mas que vão estar ali sempre dando uns bons pitacos na minha vida e no meu caminho. Também ler me parece ocupar um espaço que ficou vazio há 12 anos, quando perdi meu pai, meu principal mentor e conselheiro. Não tenho dúvida de que todos esses professores, escritores, compositores (Sim! Ouvir música também é ler!) fazem uma ligação direta entre mim e meu falecido pai, a quem puxei essa alma curiosa.

Vou continuar a ler as cartas do livro do Padre Fábio, que me ligam a Deus primordialmente, mas não unicamente. Porque aqui está a graça e a benção da escrita deste padre mineiro – fazer ligações espirituais entre todos os nossos pilares da vida. E que Deus os abençoe, abençoe a missão evangélica do Padre Fabio e que também abençoe essa que vos escreve e suas decisões!

Eis a biblioteca e o famoso piso caramelo da FAU USP!


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