"Refletir é o mesmo que erigir casas. Quanto mais eu conheço os vocabulários humanos, quanto mais eu mergulho no mistério dos significados, muito mais eu construo casas para abrigar minhas angústias. A palavra é um socorro à alma humana (...). A obra escrita com sensibilidade e arte funciona como teto onde protegemos nossa nudez, onde encontramos abrigo para descansar nossas indigências." Tempo de Esperas, Padre Fábio de Melo
No
micro-post anterior, eu expus aqui a minha fragilidade criativa frente às oscilações
da vida, quero dizer, o quanto eu fico inerte quando estou em uma crise
existencial e o quão pouco escrevo sobre os fatos e sentimentos que povoam esta
crise, ainda que eu reflita muito sobre isto. E como reflito!
Tive a
grata surpresa de tomar para mim este livro do Padre Fábio de Melo, que há
alguns anos eu já o queria ler, e perceber que nele seguem alguns temas muitos
atuais para mim. É um livro de trocas de cartas entre professor e aluno, estou
saboreando-as aos poucos, ainda estou na 3ª correspondência, mas tão cedo este
padre abençoado já me deu coragem para parar e refletir. Refletir aqui, em
palavras.
Coincidentemente,
hoje eu fui até o meu lar dos últimos anos – a FAU USP – para tomar algumas
decisões sobre minha vidinha profissional. Decisões tomadas (ou nem tanto!), fiquei
vagando por alguns minutos pela faculdade, fria e deserta como em todo julho, e
a única luz de vida veio da biblioteca, clara e colorida. Fui direto me
refugiar entre os livros, em busca de uma voz, um conselho, um olhar, uma
conexão... Nada físico, mas tudo no campo do escrito, e não menos real.
Já não é a
primeira vez que assim acontece. Se estou aflita, angustiada, tensa, desvio e
entro numa livraria em pleno horário do expediente. Às vezes, no centro de São
Paulo, erro o caminho e entro num sebo de livros. Minha rinite nem sempre
agradece, mas meu espírito me dá um tchau e sai em busca de qualquer outra
coisa que não seja a realidade daquele dia.
Hoje na
biblioteca da FAU, me enveredei na seção de Antropologia. Separei um Lévi-Strauss
pra trazer para casa, mas a mocinha do atendimento – que há alguns anos já me
chama pelo nome e não duvido que em breve me chamará pelo apelido – me disse
gentilmente: "Mariana, já encerramos e a retirada é até 15 minutos antes do
encerramento". Deixei o livrinho do caro professor francês (Ele é belga, na
verdade! Acabei de “googlear”) na minha espera para uma próxima visita, talvez
depois de amanhã. Não à toa fiquei por ali, pelas bandas da Antropologia, da
Sociologia... Dei um pulo também ali nos bons e velhos urbanistas, em especial
naqueles que nos lembram do direito à moradia. Bem ali mesmo, onde o urbanista
mete o dedo na ferida e nos acorda para o dever primário de um arquiteto: o
dever de promover a moradia nos seus meandros mais periféricos e necessários.
Não vou me alongar muito, mas o caro leitor já deve observar por onde me
encontrei ali naquela biblioteca e por onde venho querendo me achar na minha
vidinha profissional. Pois então, isso é papo mais longo, que me exige uma dose
maior de maturação, mas é bem por aí que vou trilhando meu caminho. Quando eu
chegar, eu aviso!
Ler e
escrever. O Padre Fábio me lembra do quanto é bom externar em palavras os meus
anseios. E é isso que preciso fazer mais, sem obrigar o caro leitor a entrar
num consultório de terapia, é claro! Mas também ler me abriga, me dá teto, me
dá chão. Também ler me coloca numa sala quente e com luz fraquinha, ao lado de
gente que nunca vou conhecer de verdade, mas que vão estar ali sempre dando uns
bons pitacos na minha vida e no meu caminho. Também ler me parece ocupar um
espaço que ficou vazio há 12 anos, quando perdi meu pai, meu principal mentor e
conselheiro. Não tenho dúvida de que todos esses professores, escritores,
compositores (Sim! Ouvir música também é ler!) fazem uma ligação direta entre
mim e meu falecido pai, a quem puxei essa alma curiosa.
Vou
continuar a ler as cartas do livro do Padre Fábio, que me ligam a Deus primordialmente,
mas não unicamente. Porque aqui está a graça e a benção da escrita deste padre
mineiro – fazer ligações espirituais entre todos os nossos pilares da vida. E
que Deus os abençoe, abençoe a missão evangélica do Padre Fabio e que também abençoe
essa que vos escreve e suas decisões!
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Eis a biblioteca e o famoso piso caramelo da FAU USP! |
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