É duro também viver em um mundo individualista. Aliás, não sei o que vem primeiro: o materialismo ou o individualismo! Sobre este último, digo que assim como a grande maioria dos jovens, cresci pensando que em algum dia, eu ia poder ter uma vida bacana e ter aquilo tudo que eu não pude ter nos anos anteriores, isso fruto de muito estudo e trabalho. Pra começar, eu teria que entrar numa universidade pública (e gratuita principalmente!), pois senão nem faculdade eu teria. Isso não foi problema, entrei. E talvez tenha escolhido um curso onde o individualismo é determinante. Arquitetura é o lugar dos “meus projetos”, da “minha ideia”, do meu “processo criativo”. Talvez outros cursos também assim sejam, pois ao fim tem-se um profissional de caráter majoritariamente autônomo. Eu sempre tive certeza de que eu precisava me bastar por mim mesma e isso me gerou uma grande insegurança: sempre achei que eu sabia de menos, que não era suficiente, que em algum momento isso ia ser constatado e por aí vai. O problema é que quando a sua formação tem este caráter individualista, os seus outros colegas nunca demonstram que também têm essa insegurança. Pelo contrário, todos exaltam a sua destreza na primeira oportunidade de se autovangloriar.
E nesta minha jornada de “criar e me criar” no curso de Arquitetura, fui pulando de instituição em instituição, atrás de uma segurança de nome, de fachada, de status, já que pessoalmente eu sempre havia sido um poço de insegurança. Hoje, não há mais pra onde ir. Cheguei ao lugar mais alto, no céu das vaidades individualistas, onde estão os ditos detentores da verdade e os formadores de opinião. E isso nada me traz em segurança, pelo contrário, me sinto impelida a ser cada vez mais bem informada, cada vez mais cheia de ideias, cada vez mais inteligente. Ou eu seguia essa jornada individualista, quase narcisista, ou ficaria rapidamente para trás. É aquela velha máxima: Quanto mais alto, maior o tombo!
Era óbvio que eu não conseguiria. Talvez nem eu tenha tido a consciência do tamanho da encrenca em que eu estava me metendo. E, sim, só quando acontece de fato o tombo e quando começamos a ver a cor do fundo do poço, é quando realmente também começamos a ver a reta final desta jornada. E isso não é nada fácil. Não tem sido, aliás. Mas quando se vê a tal reta final, é chegada a hora de pegar um atalho. Pensei em mil atalhos, e continuo pensando. Se na estrada original, as dúvidas já são muitas, imagine num atalho! Mas o bom de ter poucas certezas é saber que é nelas que você tem que se apegar. Não tem jeito, são suas únicas certezas!
E talvez a minha certeza mais evidente seja
que eu não nasci para este mundo individualista! Estou há quase 15 anos
tentando entrar nele e talvez por isso eu não tenha conseguido me estabilizar.
Não é o meu caminho, não é o meu mundo. Sou do coletivo, sou da ajuda mútua, sou
da troca, sou do eterno aprendizado. Não quero deter em mim nada que eu não
possa compartilhar. Não quero o ego, não quero a realização pessoal, não quero
a promoção solitária.
Era pra eu ter escrito uma crônica,
ilustrada pelo vídeo abaixo, de onde eu tirei algumas dessas conclusões. Mas,
mais uma vez, saiu um desabafo! Espero que o caro leitor possa pelo menos espelhar
esse lenga-lenga na sua própria vida. E o vídeo? A minha crítica seria em cima
destes comerciais da Nextel para a TV, onde alguns fazem uma apologia
intimidadora ao sucesso pessoal. Roteiro básico: “Eu me dei mal, eu não tinha
nada, eu era um zé-ninguém e hoje sou o que o sou. Nextel, esse é meu mundo!”
Me diga se isso não é cansativo só de assistir?! O vídeo abaixo não é um desses
com uma figura “ilustre” em especifico. Escolhi este vídeo mais geral, porque
nele o roteiro inclui um “não é dinheiro, não é fama, não é carreira, não é
poder”, como que para se retratar do caráter puramente individualista dos demais,
mas acho que não conseguiu. Porque a partir do momento que o roteiro inclui um
cadeirante numa trama de caminhos conectados por escadas, está me dizendo outra
coisa além do que escuto: Por mais longe que consigamos chegar, por mais autossuficiente
que pareçamos ser, por mais autônomos que possamos viver, sempre é chagada a
hora de seguir em frente com a ajuda, com a troca, com a generosidade. Esse é
meu mundo!