quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Acima de tudo, rubro-negro!

Com uma semana de atraso, venho aqui para registrar a emoção do tão comentado jogo entre o meu Flamengo e o Santos. Não pretendo descrever a partida, nem comentar a atuação brilhante do Ronaldinho Gaúcho e companhia, e muito menos falar mal do Neymar “cai-cai”. Isto tantos outros já fizeram pela mídia, com certeza com muito mais primor do que eu o faria. Assumo inclusive que tenho um déficit de inteligência para analisar um jogo de futebol taticamente. Vejo pelo lado da paixão: xingo até a 5ª geração dos jogadores, dou canelada na mesa do bar, fico apontando pra onde o desgraçado do meia deve abrir aquela bola e por aí vai. E isso é em qualquer jogo que vejo, seja do Mengão ou torcendo contra os “vices” ou contra a “galinhada”. Para a Seleção Brasileira eu já sou mais calma. Depois do trauma daquela decisão de 98, não consigo mais me emocionar ao ver a amarelinha em campo.

Assisti ao jogo contra o Santos em um bar conhecido pela torcida rubro-negra aqui em São Paulo, em meio ao sotaque carioca de gente como eu, perdida na cidade cinza. Todos a caráter com seu manto sagrado, cerveja gelada no copo e... Bola rolando! E o andamento da partida vocês já sabem: 3 x 0 pro time da Vila Belmiro aos 30 minutos do 1º tempo. Não consigo lembrar o que passou pela minha cabeça naqueles instantes. Mas de uma coisa eu lembro: de estar aliviada por não ter ido à Vila, pois quase fui, desisti à tardinha, inclusive estava já de mala e cuia pra descer pra Baixada. Mas não demorou para eu pensar o contrário: Por que eu não desci pra Vila? Na seqüência, um lance atrás do outro, uma emoção após outra, seqüência de três gols do Mengão, sem tempo para se quer pedir outra gelada pro garçom.

Intervalo, jogo empatado, já com aquele pênalti bizarro do Elano e com as embaixadinhas do nosso arqueiro Felipe. Tempo de ir até a calçada, discutir um pouco com a cariocada sobre os lances da partida, pedir outra cerveja e então assistir aos demais 45 minutos. Logo o balde de água fria, gol do Santos. Mas daí constato: como o time do Flamengo é raçudo quando está com o placar desfavorável, não? Talvez não, verdade. Talvez tenha sido particularmente neste jogo, neste embate entre o professor do futebol-malabarismo e o seu mais novo pupilo. Talvez tenha sido a áurea especial desta partida, que não saberemos o porquê, mas empurrou os dois times para o espetáculo que foi este jogo. A virada no placar pelo time mais querido do mundo foi onírica, impensável naqueles instantes em que eu sequer lamentava de não ter ido à Vila. Se eu pudesse descrever uma partida ideal do Mengão, não chegaria perto do que foi este duelo de quarta-feira passada. 

Se o caro leitor tiver a honra de, assim como eu, torcer pro time mais passional do universo, vai entender o que foi o pós-jogo. Saí do bar feito um tiro para pegar o metrô, com um sorriso indisfarçável (claro com o manto sagrado já na bolsa para evitar hostilidades vindas daqueles que não torcem pro time certo), com o coração a mil, os lances do jogo indo e voltando à mente, com o canto da torcida na ponta da língua: "Oh meu Mengão, eu gosto de você... Quero cantar pro mundo inteiro, a alegria de ser rubro-negro... Cante comigo MENGÃO: acima de tudo rubro-negro!". E quem conseguiu dormir bem depois de todo este delírio? Acordei por duas vezes na madrugada, sonhando que o Santos tinha virado pra cima do Flamengo! E o dia seguinte, é aquilo: trabalhar com o manto sagrado, ver os lances da partida zilhões de vezes, ler e ouvir tudo que se fala sobre o jogo (e constatar que a mídia de uma forma geral adora idolatrias e histórias extraordinárias).

O que mais passou na minha cabecinha durante toda essa semana pós-jogaço, foi pensar como é bom gostar de futebol! Como é bom ter paixão por um time e vê-lo entrar em campo e brilhar! Como é boa a apreensão da derrota temporária, que se converte no êxtase da virada! Aqui eu já constato que o caro leitor é rubro-negro (e se não é, já está quase lá!) e que vai me entender por eu falar que virada nenhuma será mais emocionante que a decisão do Carioqueta de 2001, com o gol do Pet aos 43’ do 2º tempo, em cima dos eternos vices. Mas posso afirmar que desde lá, há 10 anos, que eu não coloco o coração na boca por conta de uma partida, nem no Brasileirão de 2009, quando fomos campeões! Esta partida contra o Peixe foi emblemática para mim. Fez sacudir meu coração rubro-negro, que volta e meia se vê solitário aqui na cidade cinza. 

Não sei por que nem quando exatamente eu comecei a gostar de futebol, lá nos idos de 1990. Sei quem foi o responsável: meu pai, claro, que passava o domingo inteiro no sofá, vendo fórmula 1, campeonato italiano (quando ainda não era tão popular) e os depois os jogos daqui do Brasil, isso quando não tinha boxe na madrugada de sábado para domingo! Ali eu ficava, ao lado dele, e possivelmente ali começou tudo. Ele torcedor do América do Rio, simpatizava com qualquer time que jogasse bem. Já eu, fui fisgada pelo rubro-negro das multidões, mas herdei do meu pai o gosto de assistir a tudo e qualquer partida, de qualquer time, da Seleção (a rubro-negra, claro) ao Santa Cruz F.C. de Chiador MG, time pelo qual defendi a braçadeira de capitã (sim, eu era a mais entendida do assunto!) e joguei na zaga e, às vezes, no meio de campo, entre os anos de 1996 e 97. O crédito da foto abaixo é do fotógrafo oficial do nosso time, meu pai, lá conhecido como Seu Mazo.


Feliz 85 anos, pai. Obrigada por ter feito da sua menina, em termos futebolísticos, um moleque!