terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Sr. Terra Wikipedia

Ontem, enquanto esperava minha chefe chegar ao escritório, tomei um livro do Niemeyer pra ler. Um livro dele mesmo, escrito por ele, quero dizer, como um livro de memórias. Meio cansativo, por sinal, mas sou suspeita quando o assunto é literatura do cotidiano. Leio qualquer porcaria, não que o livrinho do Oscar o seja! Já foi-se quase metade do livro e hoje, na volta pra casa, voltei a lê-lo (como é feia essa tal de ênclise!).

Lá pelas tantas, quando o velho (com todo o respeito pelo homem!) relatava suas peripécias durante a construção da nova capital federal, ele mencionou a companhia de Dilermano Reis, nas visitas que fazia ao JK no Palácio da Alvorada. Daí então não dei mais seqüência à leitura, naquele ambiente maravilhoso que é o ônibus Rio Pequeno, no horário do rush. Mas não por isso. Fiquei pensativa porque meu pai sempre mencionava o tal Dilermano Reis... Daí o caro leitor se pergunta (e eu me achando Machado de Assis!): Ok, eu também já li uma pá de coisas com assuntos já conversados com meu pai, com minha mãe e até já conversados com meu papagaio!

Pode ser simples para o caro leitor, mas quando leio algo que se relaciona imediatamente à alguma lembrança da minha convivência com meu pai, sempre sinto a leitura como uma pseudo-conversa com o velho (não o Niemeyer, mas o outro velho, o Terra). É como uma cutucada do velho em mim (para os caros leitores usuários do Facebook). Ou melhor, eu sinto como se pudesse, hoje, agora, chegar em casa do trabalho e comentar: “Pai, eu li que o Dilermano Reis tocava violão no Palácio da Alvorada, à época da construção de Brasília... Por acaso, ele era amigo do JK?”. E ao invés de ter a resposta dele, infelizmente eu tenho que jogar no Wikipedia ou no Google, para descobrir qual era essa relação.

A quem interessar, Dilermano Reis, violonista e compositor, foi professor de música da família de JK, com quem fez grande amizade: “Ajudei a construir, com minhas próprias mãos, o Catetinho. Meu violão foi primeiro ouvido nos céus da nova Capital e fiz também a primeira música em homenagem à cidade que nascia", disse Dilermano, falecido em 1977.

O velho Terra com certeza saberia dar detalhes sobre a vida do violonista, de quem era admirador. Aliás, sempre tive a impressão que ele sabia de tudo um pouco! Na minha época de primário e ainda muito distante da simples rotina “joga no Google!”, ele era a minha salvação naquelas pesquisas que fazíamos ao fim da semana, desenhávamos e fazíamos colagem em cadernos A3, formato paisagem... Minha irmã caçula diz que eu também sei de tudo um pouco. Talvez sim, Talvez apenas eu tente saber. Sou só curiosa.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

De volta à antiga banalidade

Coisa que eu não sou boa é esperar que os outros façam algo da qual dependa minha felicidade ou meu sucesso. Não gosto de esperar muito dos outros. Prefiro fazer eu mesma, por mim mesma. Quando eu tinha meus 12 anos, já avançava nos 1,70 m e não alcançava os 50kg, comecei a escutar que eu devia ser modelo. Nunca fui vaidosa (no sentido exibicionista da palavra) e sempre fui (e ainda sou) muito envergonhada pra esse tipo de trabalho. Uma vizinha me levou pra um curso, fiz uns desfiles lá no subúrbio do Rio e logo desanimei com toda essa história. Imaginava o tanto de meninas bonitas, magrelas e altas que, assim como eu, tentavam virar tops de sucesso. E, é claro, que essa façanha não dependia só da beleza. Nesse mundinho (e em tantos outros, como é sabido) rola muito “Q.I.”, o famoso “quem indica”, e fora que você tem que ficar pra cima e pra baixo na cidade, com um book debaixo do braço, torcendo pra alguém gostar da sua carinha. Definitivamente, não era minha praia. Ainda bem que cheguei a essa conclusão com 12 anos de idade!
  
E no geral até que tenho muita autoconfiança no que eu faço e, quando me esforço, sempre tenho bons resultados. Por isso até hoje teimo em não querer esperar um “brinde” dos outros, ainda mais agora, que sei que consigo eu mesma construir minha felicidade.
 
Tudo muito simples e prático, sim? Não. Tem uma questão. Sim, é sobre namorados. Taí outra fonte da qual tento (eu disse tento!) não esperar muita ajuda para complementar minha felicidade. Passei minha boa adolescência resistindo bem, entrei na vida adulta e também consegui driblar alguns malandros disfarçados. E fui sobrevivendo, sem sentir muita falta daquilo que não poderia sentir falta, pois nunca havia sentido! Até namorar firme. Namorei durante cinco anos e meio (há controvérsias quanto à duração) com um cara que, embora hoje possa xingá-lo de tudo quanto é nome, tenho que dizer que marcou minha vida e soube me fazer feliz. Também não vou elogiar muito o namoro, porque foi bem traumático, como todo bom namoro à distância. Mas passada a tempestade, uma coisa há de ser dita, não por mim, mas por Ferreira Gullar: “Quem conheceu o delírio, dificilmente se habitua à antiga banalidade”. E nisso o poeta tem toda a razão! Eu tento voltar à serenidade da adolescência, mas minhas memórias e meus hormônios não deixam! A situação com os hormônios é até razoável de resolver. Um affair aqui, outro acolá... Mas e o coração? Sim, e o coração, que já se queixa por estar tão esquecido, aqui nessa cidade cinza?
 
Os anos vão passando e eu vou assimilando a idéia de que eu preciso deixar o coração sempre em atividade. E também vou aprendendo a admitir que a felicidade de um amor correspondido não pode ser substituída por outra, nem pelas conversas com os amigos, nem pelo chamego da família, nem por uma viagem, um bom filme, uma roupa nova, ou seja lá o que lhe traga felicidade. E para isso temos que arriscar colocar parte significativa da sua felicidade nas mãos de alguém. Alguém que até se transformar (ainda que por tempo limitado) no homem da sua vida, é só e tão somente uma dúvida, um desconhecido, um possibilidade de acerto ou de erro. E isso é tão cansativo! O cara pelo qual você vai passar um bom tempo chorando, sorrindo, admirando, xingando, discutindo, beijando... Este cara deveria vir com uma marca no meio da testa! Daí eu iria ficar menos preguiçosa e insegura, para liberar logo meu coraçãozinho ansioso.