quarta-feira, 30 de junho de 2010

Little different...

A distância opera milagres. Uma amiga fez este comentário sobre a sua relação com o irmão após mudar de cidade e ficar distante da família. Este é um fato sabido por nós, de longe tudo fica mais embaçado e, portanto, mais bonito. E hoje em dia, com as relações cada vez mais intermediadas pelas tais redes sociais, temos sempre a tendência de deduzir que a vida alheia está ótima, obrigada. Mas daí é só se aproximar um pouco, olhar com mais calma para perceber que, salvas as diferentes escalas, cada um guarda consigo seus problemas, angústias, decepções, limites, frustrações...

O que vale à pena observar nestas aproximações é a forma como cada pessoa convive com o lado ‘barra pesada’ da vida e não deixa de procurar a tal felicidade, não perde a vontade de acordar todos os dias e, principalmente, não se afasta tanto do cotidiano real e concreto de onde retiramos as doses diárias de alegria e otimismo.


Papo meio auto-ajuda, não?! Pode ser... Julho se aproxima e é chagada a hora de rever os grandes amigos, de aproximar-se deles, olhar de perto e tirar as devidas conclusões. Sinto um misto de ansiedade e medo, pois à medida que eu olho-os de perto, assim como em um espelho, eles vão me olhar também. Talvez não seja o melhor momento para me aproximar tanto, mas não há como evitar. E nem é ideal que eu evite. Como um remédio amargo, não vai ser fácil tomá-lo, vai descer mal pela garganta, mas o resultado é previsível, pois eles só me fazem bem, é óbvio!


sexta-feira, 25 de junho de 2010

Logotipo, Cartazes e Mascotes das Copas

Tomei a liberdade de sugerir um post no blog Alept.com, muito bom por sinal, onde há uma relação dos logos, cartazes e mascotes das Copas, mostrando a evolução do design gráfico.
Gosto muito do design do México 70 e da Alemanha 2006, cada um com a sua marca contemporânea.

Vale um click!

quinta-feira, 24 de junho de 2010

A urgência da vida

Hoje eu acordei mais saudosa. E pra variar, vou falar de saudade. Não! Não é simplesmente saudade. É uma necessidade de comparação entre o que eu aprendi até meus 17 anos e o que eu sou e fiz até hoje. Sim é sobre meu pai. Por isso é também sobre saudade.

Acordei saudosa, sentei no sofá, o cheiro do café, pão fresco, brisas de uma alegria vindoura e sem motivo. As notícias da Copa e da tragédia diluviana no Nordeste. Impossível não solidarizar-se com alagoanos e pernambucanos. Sou filha de nordestina, imagino bem a escala das necessidades pelas quais estão passando. Me revolto com a falta de atenção pública ao que acontece por lá, bem diversa da prepotência metropolitana a qual estamos acostumados aqui no ‘Sul’, como dizem lá no ‘Norte’.

E como a maioria dos brasileiros, deixo-me ludibriar com as notícias da África do Sul. Mas não pelas notícias dos jogos de hoje ou da Seleção que joga amanhã com Portugal, já classificada. Aqui entra a nostalgia, ao ver no link ao vivo na TV os brasileiros que foram até a África do Sul ver os jogos. No fim dos anos 90, depois do Tetra na Copa de 94 nos EUA e das Olimpíadas de 96 em Atlanta, lembro-me de como meu pai lamentava de não ter ido a nenhuma das duas edições, por ser relativamente tão perto e acessível. Ele dizia: “Precisamos ir pra uma Copa ou pras Olimpíadas. E logo!”. Eu pensava alto: “Sair do país?! Somos pobres, pai!”. Ele acrescentava: “Em 98 vai ter Copa na França, eu não sou bom no francês”. Eu continuava espantada com tamanha prepotência financeira! Ele concluiu: “Mas em 2000 tem Olimpíadas em Sydney. Então vamos pra Sydney!” (Com o ‘vamos’, leia-se ele e o seu filho homem que gosta de futebol, boxe, atletismo, F1... ou seja, eu!). Eu conclui sozinha: “Meu pai está louco! Impossível ir pra Austrália!”. Ele fazia planos financeiros, datas, trabalho, que eu já teria terminado o colegial... Mas só depois do fatídico dia das mães de 99, é que eu pude entender o caráter de urgência daquele plano de viagem. Ele dizia: “Tem que ser logo!”. Não importa como íamos pagar, não podíamos perder a oportunidade que se aproximava.

Mas perdemos.

Hoje eu assisto sozinha à Copa em São Paulo; a caçula dele, que também se enveredou pelo gosto esportivo, assiste sozinha lá no Rio. Nós duas, eu e a caçula, até hoje só fizemos a grande façanha de ir apenas aos jogos do Pan no Rio, em 2007. Estamos animadíssimas com 2014 e 2016. Creio que o destino, ou seja lá que força suprema, conspirou a nosso favor e poderemos ir finalmente tanto à Copa quanto às Olimpíadas em breve, dentro das nossas limitações financeiras (ainda!). Por enquanto, me limito a assistir aos jogos na África do Sul, ainda que eu não torça freneticamente para a Seleção do Dunga, trocando meus achismos com os da minha irmã caçula via internet.

A comparação que mencionei logo no início da postagem é sobre como ele planejava a vida e a vivia com urgência, e como eu planejo e vivo a minha vida, pensando sempre que amanhã é o melhor dia pra se viver do que o hoje.

E assim, eu quase posso afirmar: hoje de manhã, ele veio aqui, sentou do meu lado no sofá e está esperando o jogo da Itália, às 11h.

Festa Junina da Família dos Pés Sujos!


Pra quem ainda se espanta quando falo que sou filha de nordestina, taí uma fotinho que eu gosto muito!

Left to right: Tio Cainho (vulgo Manguaça), Tia Ivete, Mamãezinha, Tio Nenco (numa boa fase sóbria) and I!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Marcas Cicatrizadas

Ele estava sentado no chão, num degrau. Eu o vi de relance, de costas, e me assustei, me surpreendi com ele ali sentado. Ele estava sem blusa, suas costas à mostra tinha aquele mesmo tom moreno de sempre, sem nenhuma marca aparente. Nervosa, eu sentei ao seu lado, pois já não conseguia o observar de pé, minhas pernas bambeavam. Sentei e mirei seu rosto, que tinha um sorriso quase sem-vergonha, de quem andou aprontando umas e outras. Ele não me encarou no primeiro instante, olhava para o horizonte como se estivesse a refletir. Olhando aquele sorriso, eu o perguntei: “Por onde vc andou? Onde vc estava esse tempo todo? Por que sumiu por tanto tempo?” Ele me olhou nos olhos, sorriu mais ainda e disse que agora ele estava pronto pra voltar, que suas marcas já estavam cicatrizadas. Me perguntou se eu queria ver as suas marcas. Eu gelei e disse que não. Eu não precisava ver as marcas do resto do corpo, pois aquela do rosto havia desaparecido. Sua face era limpa e doce, barba feita, cavanhaque desenhado, dentes branquinhos. Olhando-o, eu senti meu corpo formigando de cima a baixo. Minha voz travou, eu soluçava com o choro iminente. Uma sensação de alívei, como se tudo tivesse voltado ao seu lugar. Era a emoção de vê-lo de novo, de volta, ali vivo ao meu lado. E aquilo que eu sentia era real, a sensação física foi real. O resto foi apenas sonho.

Foi rápido, mas foi suficiente pra ele me avisar que ele está bem. Eu entendi o recado.

Da última vez que eu o vi, ele veio pra me dizer que estava tudo bem, mas as marcas eram visíveis, no rosto, no peito, na barriga. Não sangravam mais. E eu entendi aquele primeiro recado. Fez minha revolta se transformar em saudade. Mas ainda penso nele e às vezes a indignação é inevitável.