quinta-feira, 24 de junho de 2010

A urgência da vida

Hoje eu acordei mais saudosa. E pra variar, vou falar de saudade. Não! Não é simplesmente saudade. É uma necessidade de comparação entre o que eu aprendi até meus 17 anos e o que eu sou e fiz até hoje. Sim é sobre meu pai. Por isso é também sobre saudade.

Acordei saudosa, sentei no sofá, o cheiro do café, pão fresco, brisas de uma alegria vindoura e sem motivo. As notícias da Copa e da tragédia diluviana no Nordeste. Impossível não solidarizar-se com alagoanos e pernambucanos. Sou filha de nordestina, imagino bem a escala das necessidades pelas quais estão passando. Me revolto com a falta de atenção pública ao que acontece por lá, bem diversa da prepotência metropolitana a qual estamos acostumados aqui no ‘Sul’, como dizem lá no ‘Norte’.

E como a maioria dos brasileiros, deixo-me ludibriar com as notícias da África do Sul. Mas não pelas notícias dos jogos de hoje ou da Seleção que joga amanhã com Portugal, já classificada. Aqui entra a nostalgia, ao ver no link ao vivo na TV os brasileiros que foram até a África do Sul ver os jogos. No fim dos anos 90, depois do Tetra na Copa de 94 nos EUA e das Olimpíadas de 96 em Atlanta, lembro-me de como meu pai lamentava de não ter ido a nenhuma das duas edições, por ser relativamente tão perto e acessível. Ele dizia: “Precisamos ir pra uma Copa ou pras Olimpíadas. E logo!”. Eu pensava alto: “Sair do país?! Somos pobres, pai!”. Ele acrescentava: “Em 98 vai ter Copa na França, eu não sou bom no francês”. Eu continuava espantada com tamanha prepotência financeira! Ele concluiu: “Mas em 2000 tem Olimpíadas em Sydney. Então vamos pra Sydney!” (Com o ‘vamos’, leia-se ele e o seu filho homem que gosta de futebol, boxe, atletismo, F1... ou seja, eu!). Eu conclui sozinha: “Meu pai está louco! Impossível ir pra Austrália!”. Ele fazia planos financeiros, datas, trabalho, que eu já teria terminado o colegial... Mas só depois do fatídico dia das mães de 99, é que eu pude entender o caráter de urgência daquele plano de viagem. Ele dizia: “Tem que ser logo!”. Não importa como íamos pagar, não podíamos perder a oportunidade que se aproximava.

Mas perdemos.

Hoje eu assisto sozinha à Copa em São Paulo; a caçula dele, que também se enveredou pelo gosto esportivo, assiste sozinha lá no Rio. Nós duas, eu e a caçula, até hoje só fizemos a grande façanha de ir apenas aos jogos do Pan no Rio, em 2007. Estamos animadíssimas com 2014 e 2016. Creio que o destino, ou seja lá que força suprema, conspirou a nosso favor e poderemos ir finalmente tanto à Copa quanto às Olimpíadas em breve, dentro das nossas limitações financeiras (ainda!). Por enquanto, me limito a assistir aos jogos na África do Sul, ainda que eu não torça freneticamente para a Seleção do Dunga, trocando meus achismos com os da minha irmã caçula via internet.

A comparação que mencionei logo no início da postagem é sobre como ele planejava a vida e a vivia com urgência, e como eu planejo e vivo a minha vida, pensando sempre que amanhã é o melhor dia pra se viver do que o hoje.

E assim, eu quase posso afirmar: hoje de manhã, ele veio aqui, sentou do meu lado no sofá e está esperando o jogo da Itália, às 11h.

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