segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Vamos falar do tempo

Alguém em São Paulo reparou no dia lindo que foi este domingo de hoje? Pergunta retórica. Claro que todos os paulistanos e os que por aqui estiveram neste domingo perceberam o brilho especial que banhou a cidade hoje. Céu limpo, com um azul resplandecente, sol moderado, mas forte o suficiente para que alguns paulistanos reclamassem do calor, aposto! À noite, o friozinho volta, o termômetro desce da casa dos 20°, a lua limpa e prateada volta para o seu lugar e, com inveja do sol radiante de domingo, ilumina a madrugada agora.

Pois São Paulo bateu palmas para o domingo de hoje porque quase nunca é assim. O sol, quando aparece, está sempre tímido, secundário. Quando ele, o sol, resolve ser protagonista, machuca o paulistano, que tanto reclama, xinga, faz pouco caso da aparição possante do astro-rei, que, intimidado, sai, bate a porta e some por vários dias. Depois de enjoar dos dias acinzentados como o concreto dos edifícios, a cidade clama pelo perdão e chama de volta os raios fulgentes do sol.

Não sei se amanhã o dia lindo vai se repetir. Como vem uma segunda-feira de dezembro por aí, acredito que a grande maioria dos paulistanos que vivenciaram a beleza do dia de hoje, não está na torcida para que o sol reapareça. Logo os paulistanos estarão com suas roupas pretas ou semi-pretas, com seus sapatos fechados e nenhum dedinho de fora, a caminho do trabalho para mais uma das últimas semanas de 2011. Ninguém quer sol, ninguém quer calor. Até preferem que chova. Sim, pode chover o dia inteiro ou de surpresa, para isso o guarda-chuva é o primeiro item a ser guardado na bolsa. Tudo menos um calor infernal de 30°!

Pois aqui, o caro leitor me rebate e imagina que na seqüência vou escrever que no Rio é diferente, que seria ótimo se este domingo de hoje se repetisse 365 dias no ano etc etc. Pois aqui o caro leitor também se engana. É claro que adorei ver os raios de sol dançando na parede enquanto a tarde caia e os passarinhos cantando como que agradecendo pelo dia de hoje. Mas alguma coisa me incomoda nessa paisagem primaveril. E para paisagem, leia-se cidade + natureza (se há pouca “natureza” em São Paulo, olha pra cima e restrinja-se ao céu!).

São Paulo não combina com este clima de hoje. São Paulo não fica à vontade com este calor de hoje. A mistura do cinza do concreto e do semi-preto das roupas paulistanas com o azul do céu de hoje, mais o verde reluzente das poucas árvores que nos cercam, dá um resultado... Digamos, cinza sujo! A cidade fica desconfortável com pouca roupa, teima em cobrir-se. Prefere suar, procurar uma sombra a cada esquina a mostrar sua pele branca e os dedos dos pés.

E eu? Eu já sofri minha simbiose paulistana. Não consegui resistir, foi mais forte que minha carioquice suburbana. Claro, sou um camaleão e me adapto ao meio, mas o domingo de sol de hoje não foi suficiente para trazer de volta o prazer de sorrir somente por olhar o céu e a paisagem. Já que estou aqui, prefiro ver a cidade na cor costumeira: cinza puro! Sem azuis e sem dourados para sujar. Gosto da São Paulo chuvosa, cabisbaixa, muito agasalhada, que pisa forte com suas botas. Acho mais elegante, mais confortável, mais condizente. 

Sei que hoje foi um anúncio do verão suave que vem para incomodar São Paulo. Sei que só irá durar três ou, no máximo, quatro meses. Claro que com algumas fugidas repentinas do sol teimoso, que bate a porta mas depois volta. Sei que é momentâneo. Talvez esses meus achismos também só sejam momentâneos. Talvez em 2012 eu volte a gostar de ver dias de sol em São Paulo. Talvez em 2012 eu queira ver a cidade menos cinza. Talvez em 2012 eu esteja menos cinza. Talvez...

Praça do Relógio - USP

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Fazendo as pazes

Vou pedir uma licença poética para os meus caros leitores (se é que, de fato, tenho leitores e se é que, de fato, já tenho direito à licença poética!) e vou retomar o assunto do dia: Futebol. Ultimamente não tenho me permitido escrever por aqui, não tenho tido a tranqüilidade suficiente para refletir um pouco sobre as trivialidades do dia-a-dia e colocá-las no papel, aliás, na tela do notebook. Mas daí vem o bom e velho futebol para te permitir tal façanha, pois este sim tem passagem vip pelos pensamentos estressantes do cotidiano e se dá o luxo de tomar um dia inteiro pra si, como aconteceu comigo neste domingo. Portanto, terminarei o dia de hoje escrevendo sobre futebol.

Tenho aqui em mãos, uma crônica do Paulo Mendes Campos, intitulada “Salvo pelo Flamengo”, que fiz questão de passar os olhos agora, novamente, para relembrá-la e citá-la aqui. Coincidentemente, ele começa seus escritos citando o Flamengo e logo dizendo que não torce pelo time da Gávea. A crônica se desenrola e, só ao fim, Paulo Mendes Campos dá a entender que torce pelo Botafogo e fecha a sua história. Citei esta crônica porque hoje, propositadamente, vou escrever sobre o Corinthians, que hoje ganhou seu penta-campeonato brasileiro. Não, caro leitor, não vou escrever sobre o Flamengo, mas assim como fez Paulo Mendes Campos, vou retomá-lo no final.

É sabido no meio futebolístico que alguns times “colam” com outros de outras regiões. Desculpem-me, na verdade quem “cola” são as torcidas e não o time (ou o clube) em si. Por exemplo, as torcidas do Palmeiras são “co-irmãs” de torcidas do Vasco (quem acompanhou os jogos de hoje, percebeu claramente isso), e assim as “co-irmãs” se estendem pelo Brasil afora. No caso do Flamengo, enquanto eu morava no Rio, sempre tive a impressão que as torcidas rubro-negras “colavam” com as torcidas do Corinthians. E trouxe esta idéia comigo desde que vim para São Paulo, há quase cinco anos. Não sou a carioca mais informada sobre futebol, mas imagino que por serem dois times, Corinthians e Flamengo, de grande amplitude nacional e também com vasta abrangência de torcedores nas classes sociais mais baixas, estes times sempre tiveram características próximas, o que talvez também tenha favorecido uma aproximação entre as torcidas. Corrijam-me, caso eu esteja errada!

Como disse, não sou a mais informada dos bastidores do futebol, mas tenho certeza que um fato estremeceu a relação entre estes dois times: A ida do Ronaldo para o Corinthians. Sim, faço parte da nação rubro-negra que se sentiu traída pelo Fenômeno, que esteve próximo de jogar no Flamengo, mas preferiu o time do Parque São Jorge ao time da Gávea. E daí em diante, juntei-me à indignada massa flamenguista e também fiz coro (só que mais próximo) de “ódio” ao Corinthians e ao Ronaldo. No campeonato brasileiro de 2010, fui ao duelo entre os dois times no Pacaembu e, infelizmente, o Ronaldo não jogou, mas ainda assim perdemos de 1 x 0. Uma impressão eu trouxe daquele domingo de 2010: como a torcida do Corinthians faz uma festa bonita no Pacaembu! De fato, é a casa deles. O Palmeiras que me desculpe, mas também fui ao Pacaembu para ver Palmeiras x Flamengo e não há comparação. Parafraseando o outro Ronaldo, o Gaúcho, Corinthians é Corinthians, pelo menos no que diz respeito à festa da torcida.

Hoje, domingo, ao fim de toda a cobertura do título corintiano, eu assisti a um filme sobre a história do Corinthians, feito em 2010, por ocasião do centenário do clube, intitulado “Todo Poderoso: O filme – 100 anos de Timão”. Não pense que para uma rubro-negra convicta é fácil assistir a quase duas horas sobre a história de um time rival, ainda mais depois de assistir ao jogo que deu ao Corinthians o título do campeonato. Pois então, caro leitor, foi fácil sim. Foi tão fácil que estou aqui me excedendo na conversa e ainda escrevendo sobre Corinthians e tudo mais.

Ocorre que o filme, antes de tudo, é um filme histórico, no sentido de que faz um leve paralelo entre a história do Brasil e de São Paulo com a criação e o desenvolvimento do clube. E nisso eu acabo por me interessar bastante, pois estou trabalhando no projeto do Museu do Flamengo e este é um paralelo que também fazemos para contar a história do time da Gávea, só que relacionando com a história do Rio de Janeiro. Ocorre também que hoje faleceu o grande Sócrates, que por pouco não vi jogar, mas sempre acompanhei suas incursões nas mesas redondas sobre futebol na TV. Sempre soube da sua fama e do seu talento diferenciado, mas hoje com o filme, pude entender mais sobre a tal “democracia corintiana” e ver como o Doutor fez a diferença dentro e fora das quatro linhas.

Mais sensibilizada do que de costume, me peguei hoje tendo mais simpatia pelo Corinthians. Mesmo sabendo que a recíproca não é verdadeira, mesmo sabendo que o mundo é dividido em flamenguistas e anti-flamenguistas, mesmo assim, hoje percebo a real semelhança entre os dois times, ou melhor, entre as duas torcidas, entre as duas camisas!

Talvez seja só uma emoção efêmera, talvez amanhã eu continue fazendo cara feia para os corintianos que vão orgulhosamente vestir São Paulo de preto e branco, talvez eu nunca perdoe o Ronaldo, talvez eu nunca goste desta Seleção Brasileira que é um time corintiano com jogadores que jogam fora do Brasil, talvez amanhã eu já não me sinta uma co-irmã de um corintiano... Mas só por hoje, como escreveu Paulo Mendes Campos, o Flamengo que me perdoe, mas tenho que concluir: Parabéns Corinthians, pelo título, pela sua torcida, pelos jogadores que passaram pelo Parque São Jorge, pela sua história!

E para ilustrar, como de costume, aqui não vou homenagear o Corinthians, mas o seu Doutor, que dentre outros clubes, sim, jogou em um verdadeiro Timão!

(imagem extraída da internet)