sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Amanhecer

“Chega de temer, chorar, sofrer, sorrir, se dar
E se perder e se achar e tudo aquilo que é viver
Eu quero mais é me abrir e que essa vida entre assim
Como se fosse o sol desvirginando a madrugada
Quero sentir a dor desta manhã” (Gonzaguinha)



Eu não gosto de acordar cedo. Melhor, eu não gosto mesmo é de dormir pouco. Gosto de ficar 8, 10 e até absurdas 12h na cama. Como eu tenho milhões de ambições na vida, concordemos que este meu projeto de vida não combina com tantas horas de sono. Embora eu goste de dormir muito, não curto acordar tarde. Quando eu acordo, olho no relógio e já passou das 10h da manhã... Pronto! Acabou meu dia, sem mesmo ter começado. Mas quando eu me dou ao luxo de despertar e ver o nascer do sol... Ah, que delícia! Não me importa as poucas horas de sono, as olheiras, o dia anterior cansativo ou o dia que ainda estar por vir. O que importa é olhar para leste e sentir a força do sol te despertando. O que importa é ouvir o cantarolar dos passarinhos te chamando para a vida. E se o amanhecer vem acompanhado do cheiro do café fresco e do pãozinho requentado, não há como não começar o dia feliz. Esta receita é melhor do que qualquer tarja preta, só não é melhor do que outro despertar... mas neste caso eu iria necessitar de um segundo protagonista nesta história e ultimamente eu não ando podendo contar com a boa vontade alheia. Voltando à cena do amanhecer, hoje eu acordei cedo, muito cedo, tão cedo que... Sim, eu não dormi para poder acordar cedo. Coloquei meu pão no forno, passei o café, peguei o jornal, liguei o note e a TV. Notícias sobre o Haiti, sobre futebol, sobre a chuva. E por fim a previsão do tempo para o fim de semana. São Paulo para variar vai estar sob fortes chuvas, não só aqui mas pelo que falou a mocinha, todo o Sudeste. Pensei: Não vou ficar tão chateada por perder o fim de semana no Rio. O noticiário prossegue com imagens de algumas capitais: São Paulo, Porto Alegre e... Uma imagem do amanhecer sobre a Baía de Guanabara, emoldurado pelo Pão de Açúcar. Até aí nada demais, termômetro marcando 25° denunciando mais um dia de calor do verão carioca. O que me deixou boquiaberta e nostálgica foi a cor alaranjada do sol entrando no azul claro do céu de poucas nuvens. Nostalgia é exagero, foi só uma breve saudade. Falo isso porque há poucos dias tive o prazer de despertar com este alaranjado varrendo a cama da minha mãe, onde eu dormia em companhia da minha irmã caçula. Janela e porta da sacada voltadas para leste, convidando o sol a te acordar suavemente, sem os agudos do despertador nos meus ouvidos. Como eu estava de férias, acordei, admirei a cor reluzente que vinha da linha do horizonte, entretanto, fechei as cortinas e voltei a dormir. Falo sempre que faço arquitetura porque morei em uma casa que me ensinou tudo o que não se deve fazer em um projeto. Com exceção à janela e à sacada do quarto atual da minha mãe, voltados para o belo leste carioca. Como eu queria este despertador natural aqui em São Paulo! Impossível, por dois motivos. Primeiro, as janelas do meu apartamento paulistano são voltadas para sudoeste, não consigo olhar a leste nem da janelinha do banheiro. Segundo porque, definitivamente, o sol não nasce aqui em São Paulo. Ele surge, não sei como, lá pela metade do dia em meio às cinzas nuvens, mas ele não nasce. Nunca presenciei o amanhecer do sol paulistano, nunca! E vou continuar a acreditar que de fato não há amanhecer por aqui.

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